segunda-feira, dezembro 11, 2006

O conhecimento geológico do país:
Uma base sólida para o desenvolvimento

A OPINIÃO DE
MIGUEL MAGALHÃES
RAMALHO

Já alguém pensou que o território também tem que ser competitivo, e que o único processo de o conseguir é investigar-lhe as potencialidades? Infelizmente, a maior parte da população portuguesa, por deficiência curricular, não faz ideia do que é e para que serve a geologia e as outras geociências.Portugal tem fundamentalmente dois grandes recursos: o espaço físico e a população. Embora pareçam entidades distintas, esses recursos interagem e, assim, a vida das pessoas é influenciada pela maior ou menor riqueza da região onde vivem. Os recursos desse espa-ço físico também dependem, muitas vezes, dos conheci-mentos e da capacidade das pessoas para os aproveitar. É consensual ser indispensável melhorar rapidamente a formação dos portugueses.
Menos conhecida e falada é a questão do conhecimento do nosso espaço físico e dos seus recursos mas, também, das causas dos riscos naturais que podem afectar as populações, como as cheias, desmoro-namentos, erosão costeira ou sismos. Este conhecimento é indispensável ao desenvolvi-mento sócio-económico e à nossa qualidade de vida.
O território é o nosso principal recurso físico. Vivemos sobre a terra, alimentamo-nos e produzimos artefactos, desde os pregos aos aviões, com materiais dela provenientes. A melhor e mais segura forma de os aproveitar é através do conhecimento geológico do país. Já alguém pensou que o território também tem que ser competitivo, e que o único processo de o conseguir é investigar-lhe as potencialida-des? Infelizmente, a maior parte da população portuguesa, por deficiência curricular, não faz ideia do que é e para que serve a geologia e as outras geociências. E os «media», à excepção dos dinossauros, pouco se interessam pelo maravilhoso passado da Terra e pela forma como são obtidos os recursos minerais.
O conhecimento geológico do país:
Uma base sólida para o desenvolvimento
Em Portugal a entidade nacional que se ocupa destes problemas é o Instituto Geológico e Mineiro (IGM), um laboratório do Estado cujas origens remontam a 1848, tendo sido um dos primeiros do género na Europa. Todos os países europeus têm instituições deste tipo – institutos ou serviços geológicos – e o mesmo acontece em quase todos os restantes, tal é a importância que se lhes reconhece.
Referirei, apenas, alguns aspectos relevantes da activi-dade do IGM e das suas aplica-ções à vida diária, deixando de lado as várias dificuldades que, na última década, nos têm afactado. As cartas geológicas que têm sido publicadas a várias escalas e as que existem em arquivo, mas estão acessíveis aos utilizadores, cobrem quase todo o país. Todas foram feitas à base de um trabalho sistemático de investigação no terreno e nos laboratórios. Não é admissível querer construir uma grande infra-estrutura (estradas, pontes, barragens ou urbanizações) ou explorar minas, pedreiras, petróleo, águas subterrâneas, e outros, sem consultar a respectiva carta geológica. São cada vez mais os pedidos de fornecimento dessas cartas pelas empresas, autarquias e administração regional.
A instabilidade dos terrenos, a perigosidade sísmica, a erosão da costa, são alguns exemplos de riscos naturais que poderão ser minimizados, ou mesmo evitados, utilizando a informação geológica para as zonas em questão. Querer fazer ordena-mento territorial sem atender à Geologia é estar a brincar com coisas muito sérias. O IGM realizou investigação e publicou resultados importantes para a resolução desses problemas e para a segurança e bem-estar das populações.
Estudos económicos feitos na Alemanha e em Espanha comprovam que o investimento nas cartas geológicas é pago em menos de dez anos, só com os benefícios directos delas resul-tantes.
Com base nas cartas geológicas é possível, por exemplo, estudar as águas subterrâneas e ficar a conhecer os melhores sítios para as captar ou, então, para depositar substâncias poluentes, sem perigo de as contaminar (lixos industriais e urbanos, sucatas, cemitérios). Têm sido, assim, publicadas cartas hidrogeológicas e investigado química e fisicamente dezenas de milhares de pontos de água. Todos estes resultados vêm sendo disponibilizados aos interessados, como autarquias, empresas e particulares. No território submerso, na chamada plataforma continental, há importantes reservas de areias e cascalhos, que, à semelhança de outros países, podem ser explorados para a construção civil. O IGM, através dos seus estudos, identificou os locais mais promissores, havendo empresas interessadas em iniciar a extracção.
Nas zonas mais profundas, há hoje possibilidade de exploração de petróleo e gás. A preparação deste trabalho foi feita pelo IGM e os primeiros «blocos» já têm empresas candidatas. E, final-mente, de acordo com a lei internacional, temos agora a única oportunidade de aumentar o território nacional (sem guerras…), pelo alargamento da área da plataforma continental, com base na investigação já em grande parte efectuada pelo IGM.
Podia, ainda, falar no interesse do património geológico – sítios com importância científica, pedagógica ou turística - que interessa cada vez mais às autarquias que desenvolvem o turismo da natureza, e de que o IGM tem produzido publicações, nomeadamente para os parques naturais e feito acções de divulgação para o grande público, professores e alunos: foi, também, deste instituto que partiu a proposta que originou a «Geologia no Verão», que tanto sucesso tem tido. (…) O IGM e os seus antecessores têm feito um trabalho de qualidade e quantidade ao longo de mais de 150 anos. Para sermos competitivos temos de conhecer e valorizar as capacidades do nosso território e apoiar empenhadamente os organis-mos que desempenham esta verdadeira missão de serviço público.

«In Público Agosto de 2003»

3 comentários:

Anónimo disse...

Conhecer o que pisamos,
Saber do que falamos.
Se soubermos as verdades,
Seremos um país mais rico,
Pois conhecemos as nossas potencialidades.

Anónimo disse...

Conhecer o que pisamos,
Saber do que falamos.
Se soubermos as verdades,
Seremos um país mais rico,
Pois conhecemos as nossas potencialidades.
E se tivermos petróleo?
E se tivermos gás?
De saber poucos são capaz...
É preciso investir na formação
Desta portuguesa população
Pois só assim, sairemos da ignorância.


Talvez não tenha sido a forma mais feliz de comentar o seu post mas acho que fiz um comentário pertinente...Não diga que não. =)

Rafaela disse...

todos sabemos que Portugal tem grandes potencialidades para ser um melhor pais, mas é pouco possivel com a nossa economia,com a qualificação do povo e tambem porque nao temos quem invista nessa parte da questão. Contudo perdemos alguns anos de investimento em epocas anteriores, isso foi uma das causas para isto ter acontecido.

aos poucos e poucos vamos melhorando. e como o proverbio diz: devagar se vai ao longe xD